domingo, 30 de novembro de 2008

Aprendendo a viver no pouco e no muito

Tenho como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo” Filipenses 3:8

Posso dizer que ainda assim, olhava para os versículos 9 e 10 de 2 Coríntios 12 e não entendia. Achava bonito e muito nobre sofrer por Jesus. Mas como assim sofrer por Jesus, como eu preciso sofrer, se Ele levou minhas enfermidades? Foi aí que como o levita Asafe no Salmo 73, estava embrutecido e não entendia os caminhos de Deus, comecei a entender de que se tratava esses dois versículos.

Ouvia meus pastores falarem em desertos, em provações e para dizer a verdade, não me dizia nada. Até que as coisas começaram a ficar estranhas para o meu lado...
Acabara de me formar em Jornalismo e não conseguia emprego. Uma incoerência aos olhos humanos, não fazia sentido, sempre estagiei em lugares conceituados e agora me via sem trabalho. Ficar em casa me fez perceber o quanto sou pequena e desarmada sem Jesus. A todo instante a Palavra: O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza(2 Co 12:9), martelava na minha cabeça.

Ia para a igreja, adorava ao Senhor e nem pedia o meu emprego, porque entendia que aquilo era uma fase que o Senhor queria me testar. Havia dias em que não falava com ninguém, apenas à tarde, quando meu noivo ou mamãe me ligavam e cá estava eu. A palavra DESEMPREGADA estava na minha cabeça. Chorava copiosamente aos pés do Senhor e alegrava-me na sua presença. Meu pastor querido disse: isso é crescimento. Eu pensei, esse é o verdadeiro crescimento, sem inchaço, na dor. Comecei a vislumbrar um tanto do que Paulo falava. Alguns dias foram torturantes, parecia um vazio, todos trabalhando e eu em casa. Não fazia sentido.

Minha vida espiritual parecia crescer e alcançar patamares que eu não havia alcançado, cheguei a passar manhãs me regozijando ao ler Levítico, Hebreus e Apocalipse, livros que antes eu considerava chatos e muito complicados. Parecia que Deus estava moendo meu coração. Não me via fraca por opressão maligna, mas por permissão de Deus.

Um dia surgiu uma expectativa muito boa de trabalho. Estava quase tudo certo para começar, quando tudo foi travado. Tão estranho. Amarra demônio daqui, amarra de lá, eu não conseguia entender. Pensei: mas o tal do deserto já não acabou, Jesus? De repente aquela oportunidade que estava ali, à porta, ficou como se estivesse congelada, a imagem congelada de um filme. Me entristeci, não posso negar. Mas continuei buscando a face do Senhor, me alimentando das suas palavras e então veio-me a resposta.

O Espírito guiou-me a ler sobre o Rei Ezequias, especificamente a passagem onde ele mostra todos os seus bens aos embaixadores de Babilônia e logo depois Isaías profetiza o cativeiro babilônico. Aquilo caiu como uma bomba na minha cabeça. O Senhor trouxe a minha mente que eu havia contado a muitas pessoas sobre o emprego, inclusive sobre o desejo da dona da empresa em me transformar em sócia como ela e quem sabe me tornar uma empresária. Senti em meu coração a confirmação de que o deserto prolongara-se devido ao meu impulso e a minha ansiedade.

Pedi perdão a Deus por falar demais e procurei me controlar. O Espírito Santo me revelou isso. E o mais engraçado era que eu vivi tudo isso sozinha. Quando falo de revelações, não era o pastor quem recebia e me dava, ou me aconselhava. Era eu e Jesus. Entendi o que era crescimento.
Nas orações por emprego, lá estava eu lá na frente na igreja. Era humilhante, não posso negar. Ainda me sentia grande. E meus irmãos, a maioria deles mais humildes financeira e intelectualmente do que eu, estavam comigo também , na luta. Entendi que para o Senhor não existe pobre ou rico, com ou sem diploma, é o Senhor quem prospera os seus. Mais um tapinha de Papai para aprender!

A todo instante Deus confirmava no meu coração aquilo que eu já sabia: Eu precisava aprender a ver meus irmãos maiores do que eu, precisava ver que diante de Deus todos somos iguais. Deus disse: “Acaso eu não tenho responsabilidade com a sua vida? Ou sou um Deus irresponsável? Mas preciso fazer você crescer ainda mais”. O Pai me disse que queria que eu soubesse o que é depender inteiramente Dele.

Quando terminei de escrever esse livro, eu ainda não estava trabalhando, mas minha visão de tudo mudou completamente. Estava tranqüila agora, sem ansiedade. Confiando em Deus cegamente... Sei que Ele tem o melhor. Já agradeço por Ele ter permitido o desemprego, só eu sei como o meu interior mudou. E a Bíblia se cumprindo a cada dia: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os seus estatutos” – Salmo 119:71.

Tudo tem a sua hora, quando lemos Davi dizendo no Salmo 40 que teve de esperar para que Deus o ouvisse, entendemos que há um tempo. Há uma espera. O pregador[1] Salomão também diz que tudo tem sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3:1). Se eu não estivesse desempregada, esse livro não teria sido escrito.... e muito provavelmente muitas das experiências aqui registradas não teriam acontecido.

[1] Eclesiastes vem do grego Ekklesiastes, que significa pregador

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